ABRUPTO

4.7.13


O NAVIO FANTASMA (7)

A demonização das eleições é um dos traços autoritários mais preocupantes dos dias de hoje. As eleições são apresentadas como sinónimo de um "país que pára",  um acto inútil "porque tudo fica na mesma", um enorme desperdício de dinheiro a evitar a todo o custo. Ouvindo com atenção os argumentos hostis à possibilidade de eleições imediatas percebe-se que eles não dizem respeito apenas à antecipação de eleições no actual contexto de crise, mas a todas as eleições, às eleições de per si. São, no seu entender, um momento anti-económico e um obstáculo a que o país "trabalhe" e "ande para a frente". A questão tem a ver  com a ideia de que a democracia é uma perturbação inaceitável, ou apenas aceite no limite da condescendência, para um ideal de funcionamento tecnocrático, aplicado por uma burocracia "racional", a mando de não se sabe de quem.

PS: Os mesmos que se queixam de que, se houver eleições, "o país pára oito meses" (uma patetice  sem qualquer correspondência com a realidade), andam há muito a prometer que encurtam os prazos eleitorais na lei, e, de legislatura em legislatura, não tomam nenhuma iniciativa nesse sentido, mantendo prazos e tempos de campanha excessivos.

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© José Pacheco Pereira
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